[ver pdf]
Prof. António Dionísio
Presidente
Instituto Politécnico de Bragança
Bragança, 18 de Julho de 2003
Filmagem vídeo: Nuno Beira
Transcrição: Ana Cabral
Edição: Eduardo Beira
V0, 9 de Agosto de 2003
Eduardo Beira:
O Instituto Politécnico transformou-se numa grande força
do desenvolvimento regional?
António Dionísio:
Sim e felizmente podemos considerar isso como positivo. O Instituto começou
as aulas em 86/87, e agora é já uma realidade pujante, com
praticamente seis mil alunos, 35 licenciaturas, cinco escolas superiores,
que este ano viu o sector do ensino da saúde reforçado -
o que é importante numa altura em que se começa a sentir
uma certa recessão da procura do ensino superior pelos alunos,
mas felizmente na nossa instituição ainda não sentimos
sinais dessa recessão. Esta situação está
obviamente também muito ligada ao crescimento da própria
cidade e é considerada uma das grandes “indústrias”
de Bragança.
Eduardo Beira:
A grande diferença da Bragança de hoje, de Bragança
de há vinte anos atrás é o Instituto Politécnico?
António Dionísio:
Com certeza, mesmo comparando Bragança de hoje com Bragança
de há cinco ou dez anos. Nos últimos dez anos o crescimento
da instituição afirmou-se porque foi possível criar
a Escola Superior de Tecnologia que hoje tem mais de metade de todos os
alunos do universo do Instituto. É uma das escolas que com a sua
diversidade de cursos, com as engenharias clássicas e com as novas
tecnologias, está-se a afirmar e até porque essas matérias
hoje são fundamentais para apoiar o desenvolvimento de qualquer
região.
Eduardo Beira:
A área de informática na escola de Tecnologia tem-se desenvolvido
bastante?
António Dionísio:
Sim, e mesmo nas telecomunicações, temos apoiado a questão
de Bragança - cidade digital. Fomos inovadores na transmissão
da internet sem fios. Esta Instituição tem uma grande importância
em termos do know-how que representa conhecimento da região e conhecimento
científico disponibilizado para ser aproveitado por iniciativas
empresariais.
A Instituição, para além dos seis mil alunos, tem
cerca de 450 professores, 120 dos quais estão a acabar o doutoramento
a muito curto prazo. A Instituição hoje tem a força
que tem, mas daqui a três anos (que é o tempo que vai demorar
a apresentação deste grande boom de doutoramentos, que é
o programa mais ambicioso do país em doutoramentos), obviamente
que a Instituição ficará com outra capacidade de
intervenção.
Eduardo Beira:
Por outro lado o Instituto Politécnico de Bragança estendeu
a sua actividade a outras zonas, como Mirandela, ...
António Dionísio:
Exactamente e tornou-se um pólo interessante e importante, porque
foi possível criar uma escola nova em Mirandela, mas com uma característica
muito própria, ou seja criou-se a escola mas ela não depende
do vaivém de professores de Bragança para Mirandela, tem
o seu corpo docente constituído, a residir praticamente todo na
cidade de Mirandela e isso tem sido importante para o desenvolvimento
da escola. É uma escola que começou hà quatro ou
cinco anos e já tem cerca de 600 alunos e este ano prevê-se
que o número de alunos aumente, com cinco novos cursos na área
do turismo, da administração pública, da gestão
sociocultural. É um investimento na vertente das «novas profissões»,
e não tanto nas engenharias.
Eduardo Beira:
O Instituto tem muitos alunos que não são da região?
António Dionísio:
É evidente, todas as instituições do interior não
sobreviriam apenas comos alunos da região. São alunos de
todas as partes do país, mas há de facto uma zona mais privilegiada,
que é litoral norte onde há gente. Os excedentes das universidades
do litoral, e não só, que não encontram lugar, têm
tido uma preferência interessante para Bragança. É
claro que a IP 4 foi um factor de grande importância e se não
existisse esta realidade era muito difícil de se concretizar. O
clamor das forças públicas regionais em agilizar a acessibilidade
à nossa região é fundamental para a continuidade,
a solidez e o crescimento do nosso Instituto.
Eduardo Beira:
O Instituto Politécnico contribuiu para fazer residir aqui em Bragança
muita gente altamente qualificada que não era de Bragança.
É um problema para o Politécnico reter as pessoas aqui?
António Dionísio:
Não. Curiosamente o que está acontecer é que a maior
parte dos docentes também são de fora, mas a maior parte
deles, se não todos, são mais bragançanos e transmontanos
do que aqueles que nasceram cá. Isto acontece porque Bragança
é a única cidade do país que está suficientemente
longe de tudo e de todos e desde há muitos anos que se constitui
como um pólo com vida própria. Não é por acaso
que Bragança se chamava a mini Coimbra, as tradições
académicas de Bragança desde o princípio do século
foram tradições extraordinariamente importantes porque a
comunidade que aqui vivia teve que arranjar modos de viver sui-géniris.
Bragança nunca dependeu de outros centros, tem uma grande interface
com a vizinha Espanha, toda a gente conhece a noite de Bragança
que tem sido até muito badalada, mas é uma forma de ser
auto-suficiente em tudo. Os docentes que para aqui vêm não
têm grandes hipóteses de ter as suas residências nas
zonas do litoral e radicaram-se até porque o projecto é
entusiasmante. Nós queremos afirmar a Instituição
do ensino superior, logo uma Instituição Universitária
e isso consegue-se com um grande empenhamentos dos docentes e que é
o que está a acontecer. Os docentes estão praticamente todos
em exclusividade de funções e dedicam-se de corpo e alma
à instituição e isso tem sido um factor importante
da consolidação e da imagem do Instituto dentro e fora da
região.
Eduardo Beira:
Cada vez mais Bragança é uma região transfronteiriça
ou tenderá a ser uma cidade fronteiriça. Como é que
vê a relação com Espanha?
António Dionísio:
Nós temos relações privilegiadas, nomeadamente com
as três universidades de Salamanca, Valladolid e Leon. Pertencemos
em conjunto ao Instituto InterUniversitário de Cooperação
Transfronteiriça Rei Afonso Henriques. Até hà pouco
tempo o Politécnico de Bragança não tinha sido admitido,
por não ser universidade, mas há uns meses atrás
por direito próprio fomos admitidos neste fórum. Temos alguns
projectos transfronteiriços científicos em execução
e temos um programa Erasmus muito activo, cerca de 70 jovens de todas
as partes da Europa estão aqui a estudar, dos quais mais de metade
são de Espanha. Temos uma grande procura por parte de alunos espanhóis
que vêm aqui fazer um ou dois semestres no programa Erasmus. Bragança
tem uma grande interface com o país vizinho. Se reparar o nosso
território tem a fronteira norte e a fronteira leste, tem duas
interfaces com o país vizinho, obviamente que temos que ter a capacidade
de afirmar a nossa cultura como europeia e afirmar a nossa matriz cultural
no início do território e a consolidação e
o desenvolvimento desta estrutura é fundamental para assegurar
uma interface em pé de igualdade com as universidades do país
vizinho. Obviamente que temos uma vocação transfronteiriça
e estamos a tirar partido dela e temos a obrigação de a
desenvolver cada vez mais.
Eduardo Beira:
Em relação à Escola de Saúde ...
António Dionísio:
A Escola de Saúde é um projecto muito importante para a
região. Tínhamos apenas o curso de enfermagem e com a criação
desta Escola, podemos já este ano abrir o curso de Análises
e o curso de Farmácia. Estamos a pensar em abrir novos cursos na
área da saúde, uma vez que é uma área cada
vez mais procurada e é um projecto muito importante, porque também
ter a esperança de continuara a receber alunos com vantagens para
todos.
Eduardo Beira:
Como é que vê a questão da localização
das empresas aqui
António Dionísio:
Sim, a Faurecia é uma delas, uma multinacional que deu aqui os
primeiros passos, é evidente que promover o desenvolvimento, quer
da Faurecia quer de outras, tem muito ainda a ver com as acessibilidades.
A Faurecia também veio com uma perspectiva de melhorar, o terminal
do IP 4 parece que este ano será terminado finalmente e será
lançada a ponte dos 1600 metros, como também a ligação
à auto via das Rias Baixas que são absolutamente vitais
e o alargamento do aeroporto para os 6000 pés. Há uma necessidade
nesta região de acessibilidade aérea, justifica-se a existência
de um avião. Bragança está a uma distância
crítica acima dos 400 a 500 km da capital, por isso a viabilidade
da ligação aérea, embora mais tarde se faça
a duplicação da IP 4, continua a ser extremamente importante.
A questão das acessibilidades e a consolidação do
ensino superior e da componente de investigação aqui na
região para mim são os grandes obreiros para que esta região
possa atrair mais Faurecias. É natural que eu seja um optimista,
nasci aqui e conheço muito bem a região, há pelo
menos sessenta anos e desde os meus tempos de liceu que o crescimento,
a consolidação, a oferta da própria cidade, as obras
de urbanismo e qualificação que a cidade tem tido nos últimos
anos são factores de atractividade de novas empresas.
Eduardo Beira:
A área artística parece pouco implementada...
António Dionísio:
Embora seja uma área pouco desenvolvida, está em vias de.
Iniciamos dois cursos nessa área. Está prevista e proposta
há três anos uma Escola Superior de Artes. As áreas
artística e desportiva são áreas em que estamos a
apostar, na perspectiva de virem a ser autonomizadas a curto médio
prazo. Há um esforço no sentido de iniciar novos cursos.
Muito embora a Instituição tenha já a dimensão
que tem com 6000 alunos, ainda há alguns investimentos fundamentais
a fazer para o desenvolvimento deste projecto. A construção
do edifício definitivo da Escola Superior de Saúde, uma
biblioteca central, dois lares de estudantes. Com estas infra-estruturas
ficaremos com o grosso da área de cimento concluída.
Eduardo Beira:
O Instituto tem muitos alunos da região, terá uns dois mil
alunos da região, a região apesar de tudo é uma região
dispersa. Quais são as infra-estruturas que de acolhimento que
o Politécnico tem para os alunos de fora da região?
António Dionísio:
Bragança tem uma questão muito positiva, que foi um boom
da construção civil. Esta explosão urbanística
que vemos aqui à volta é praticamente só por causa
dos alunos do Instituto. À volta da Instituição temos
repúblicas, temos cerca de 400 camas e temos mais 200 em projecto.
Um fenómeno interessante a referir é a quantidade de alunos
que se está a fixar em Trás-os-Montes e em Bragança
em particular. Cerca de 25 alunos que temos a trabalhar como funcionários
no Politécnico, 80% não são de cá e é
curioso que notar que os alunos de fora procuram insistentemente mercado
de trabalho local porque não querem regressar ao litoral. Se houver
um grande investimento empresarial aqui na região tem de se importar
mão-de-obra qualificada.
|