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José Nunes Azevedo, Director clínico e sócio
Nordial
Mirandela, Julho de 2003


Filmagem vídeo: Nuno Beira
Transcrição: Ana Cabral
Edição final: Eduardo Beira
V0, 9 de Agosto de 2003


Eduardo Beira:
Instalar esta clínica em Mirandela foi uma tarefa difícil?

Nunes Azevedo:
A instalação teve as suas complicações normais, mas também teve certas facilidades. Porque na altura houve alguém que se interessou pelos problemas da região, especialmente pelo tratamento da insuficiência renal, que foi o Dr. Paulo Mendo, na altura Ministro da Saúde, e que a título excepcional deu autorização para a abertura de um centro nesta região que estava altamente carenciada e que tinha doentes que tinham que se deslocar 1500 km por semana para irem fazer diálise ao Porto. Havia uma grande urgência na abertura de um centro local que prestasse estes serviços.

Eduardo Beira:
E em relação ás questões associadas à logística local?

Nunes Azevedo:
Sob esse ponto de vista, este centro foi extraordinariamente fácil de se construir. Iniciamos as obras em Outubro de 1994 e foi inaugurado no dia 15 de Janeiro de 1995. Tivemos uma colaboração extraordinariamente grande da parte da Câmara e de todos os organismos aqui da cidade, que não nos criaram qualquer problema. Além disso tivemos um grande apoio do Ministério, na medida em que o Dr. Paulo Mendo não só nos deu a autorização, como fez força para que este centro fosse aberto em tempo recorde no país - apenas em quatro meses.

Eduardo Beira:
Como é que foi o problema da mão-de-obra e do recrutamento de pessoas?

Nunes Azevedo:
O recrutamento não foi difícil, na medida em que na altura havia muita gente no desemprego que necessitava de ocupação. Na altura a selecção não foi muito criteriosa, hoje compreendo isso e tenho outra visão da situação, e já tenho outros critérios de exigência mais marcados. De qualquer maneira o pessoal que tenho aqui a trabalhar comigo foi treinado por nós, todas as semanas tínhamos uma reunião em que eram debatidos os diferentes aspectos da sua formação e além disso levamo-los à clínica em S. João da Madeira, onde tiveram treino na casa mãe antes de se iniciarem aqui em Mirandela. Neste centro tenho uma mais valia que é o enfermeiro chefe, uma pessoa com uma capacidade de formação extraordinariamente marcada e um indivíduo com um bom currículo anterior na Suiça, onde chefiou durante dez anos uma equipa de cuidados intensivos, e que aqui continuou com a mesma dinâmica e conseguiu formar uma equipa coesa, trabalhadora e harmónica.

Eduardo Beira:
Vive aqui em Mirandela?

Nunes Azevedo:
Neste momento resido em Frechas, a 7 km de Mirandela.

Eduardo Beira:
Queria-me referir ao enfermeiro chefe…

Nunes Azevedo:
O Enfermeiro Chefe é do Porto mas está a residir em Mirandela.

Eduardo Beira:
Já cá vivia?

Nunes Azevedo:
Ele tinha vindo da Suiça à pouco tempo, na altura estava para ir trabalhar para Vila Real e foi quando nós o captamos para vir trabalhar na clínica aqui em Mirandela.

Eduardo Beira:
Qual é a opinião da mão de obra local?

Nunes Azevedo:
A mão-de-obra local é boa, o que é preciso é dar formação às pessoas e criar critérios de exigência. No que diz respeito à saúde obrigá-los a serem pessoas que tenham sentido de humanismo bastante marcado, porque na saúde antes de mais é preciso ser-se humano, meigo, atento, simpático, porque o doente já de si é um doente crónico e todos estes aspectos são fundamentais para que o doente se sinta bem e consiga superar a sua doença crónica.

Eduardo Beira:
Como é a qualidade de vida aqui em Mirandela?.

Nunes Azevedo:
Eu sou um fã de Mirandela, adoro esta cidade, e ao contrário do que muita gente pensa, deixem-me aqui desde já expressar a minha opinião, é que Mirandela é o coração de Trás-os-Montes. É a cidade mais central de Trás-os-Montes, e apesar da capital de distrito ser Bragança. As nossas autoridades deviam pensar mais em desenvolver o ponto mais central, que é esta cidade.

Eduardo Beira:
E quanto à qualidade de vida?

Nunes Azevedo:
A qualidade de vida é óptima, uma maravilha. Eu gosto muito, as pessoas são extraordinariamente simpáticas, há uma relação muito agradável em todo o lado, nos estabelecimentos comerciais, bancos, etc.

Eduardo Beira:
E a questão da infra-estrutura de saúde, educativa, cultural?

Nunes Azevedo:
No que diz respeito à educação, esse é um aspecto que me passa um pouco ao lado. No que diz respeito à saúde, trabalho muito em colaboração com o Hospital de Mirandela. É um Hospital que neste momento mudou a direcção, e está a haver um grande entusiasmo com a perspectiva de mudar as estruturas. Como médico e apreciando a dinâmica dos hospitais, penso que se poderia fazer muito mais. No que diz respeito aos centros de saúde, penso que o Centro de Saúde de Mirandela tem bons elementos, pode dar muito à região, mas evidentemente que há pormenores que não conheço porque não estou por dentro do assunto.