Conversa com Eng. Jorge Nunes, Presidente da Câmara Municipal
de Bragança
Bragança, Julho de 2003
Filmagem vídeo: Nuno Beira
Transcrição: Ana Cabral
Edição final: Eduardo Beira
V0, 9 de Agosto de 2003
Eduardo Beira:
Qual a evolução que o distrito de Bragança teve nos
últimos vinte anos, de uma ruralidade quase que extrema até
à cidade de hoje?
Jorge Nunes:
Nos últimos anos verificaram-se transformações importantes,
em termos de actividade económica, na qualificação
das pessoas, houve uma evolução ao nível da residência,
da concentração de pessoas que se tem verificado na cidade,
que funciona hoje como um espaço âncora relativamente ao
espaço envolvente. As transformações são notáveis,
não só a nível do espaço rural, que sofreu
evoluções claramente positivas, mas acima de tudo pela qualificação
de recursos humanos que se verificou na cidade. Associado a todo este
processo de transformações, está uma qualificação
importante da cidade e da região em geral, com um crescimento feito
com qualidade e sustentabilidade.
Eduardo Beira:
Qual o papel do Instituto Politécnico de Bragança na transformação
da cidade?
Jorge Nunes:
O Instituto Politécnico é uma das realidades mais importantes
da última década neste distrito. A presença de jovens
e a sua qualificação incrementou uma vida cultural mais
activa, dinamizou a actividade comercial e a vida da cidade, permitiu
que se radicassem jovens qualificados, particularmente docentes do Instituto
Politécnico - onde estão mais de quatrocentos professores,
a maior parte deles vindos de fora. É gente de fora que organiza
a sua vida com hábitos diferentes, com outras exigências
em termos de qualidade de vida e isso tem constituído um desafio
a que a cidade e o Concelho têm respondido positivamente.
Eduardo Beira:
E o ambiente urbano?
Jorge Nunes:
A cidade está a passar por um período de qualificação
urbanística e ambiental importante. As cidades com qualidade de
vida, que possam proporcionar bem-estar aos seus cidadãos, serão
no futuro espaços procurados para viver e trabalhar e temos apostado
estrategicamente na qualidade de vida e na boa imagem da cidade. A imagem
de uma cidade verde, em consonância com as características
positivas que tem o nosso concelho. É um grande concelho, com 1183
km2 de área, em que 60% desta área está integrada
em reservas naturais e tem um reconhecimento a nível institucional,
a nível ambiental e paisagístico de superior qualidade.
A cidade só pode estar a condizer com esta imagem e temos feito
um esforço notável de qualificação urbanística
e ambiental e queremos cada vez mais, assumir e instituir o estatuto de
cidade verde. Entendemos que essa condição lhe vai conferir
importantes trunfos em termos da procura no futuro.
Eduardo Beira:
Como é a situação das infra-estruturas de saúde,
escolares, etc. - de uma maneira geral aquele tipo de infra-estruturas
fundamentais para localizar gente de fora ?.
Jorge Nunes:
Tem havido evoluções importantes. Evidentemente que há
sempre carências em qualquer território e em qualquer cidade.
No entanto a nível da saúde têm-se verificado evoluções
importantes, há investimentos e projectos que estão a decorrer
e que certamente irão conferir maior qualidade na área da
prestação dos cuidados de saúde. A nível de
acessibilidades a situação tem melhorado bastante.
Eduardo Beira:
Bragança tem conseguido atrair algum investimento nos últimos
tempos?
Jorge Nunes:
Nos últimos tempos temos atraído investimentos importantes,
na área do ramo automóvel, no fabrico de componentes num
processo muito exigente da parte do investidor. Bragança conseguiu
a nível do seu caderno de encargos, responder e oferecer as condições
de atractividade adequadas para que o investidor pudesse tomar as suas
decisões favoráveis de instalação na cidade.
No âmbito de parâmetros de decisões racionais sob o
ponto de vista do negócio, Bragança surgiu como um espaço
vantajoso em termos de localização. Há outras áreas
de desenvolvimento, como, por exemplo, ao nível de investidores
turísticos, onde têm surgido importantes investimentos e
projectos, designadamente na instalação de uma maior capacidade
hoteleira na cidade, que praticamente duplicou nos últimos anos.
Também ao nível da instalação de investimentos
na área rural, designadamente em aldeamentos turísticos,
como a construção de um Eco Golfe e de um centro hípico.
Eduardo Beira:
Como é que vê as acessibilidades e a curto e médio
prazo?
Jorge Nunes:
As acessibilidades são um aspecto fundamental para a captação
dos investimentos. A sua evolução tem sido importante e
vai ser muito mais notória ainda. A construção da
IP 4 constituiu um avanço importante. A construção
alternativa ao IP 4, uma auto-estrada com ligação a Quintanilha,
vai acontecer num prazo relativamente curto. É inevitável
que assim seja, devido à evolução das acessibilidades
do lado espanhol, tendo em conta que proximamente a auto via E 82 estará
em Quintanilha. Neste momento está em evolução de
Tordesilhas/Toro/Zamora. Estão a ser executados estudos para Zamora/Quintanilha.
Aqui a norte temos a auto via A 52, que com a ligação de
Bragança/Pueblo de Sanabria, ficará a 30 km, a 15/20 minutos
de Bragança.
A nível ferroviário, Bragança irá ficar proximamente
no primeiro núcleo de influência de uma estação
TGV localizado no Pueblo de Sanabria, na linha de ligação
de Madrid/Vigo/Lisboa.
Bragança seguramente saltou já de uma situação
periférica, para uma situação de uma nova centralidade,
que se desenvolverá tendo em conta todo o processo de desenvolvimento
das acessibilidades. Para isso também tem contribuído todo
o trabalho de cooperação que tem vindo a ser desenvolvido
com o território vizinho, tendo presente que o concelho de Bragança,
com fronteira a norte e a nascente, é provavelmente o concelho
do país, com a fronteira mais extensa com o país vizinho.
Nesse aspecto tem uma oportunidade e uma mais valia a nível da
cooperação próxima e futura com o território
de Castela e Leão.
Eduardo Beira:
Uma centralidade transfronteiriça?
Jorge Nunes:
Eu diria que temos a certeza disso. O facto de Bragança se assumir
como uma das portas de entrada a norte de Portugal, permite-nos um desafio
no sentido de fazer da actual localização de Bragança
uma nova centralidade no âmbito das regiões do Norte de Portugal
e de Castela-Leão.
Eduardo Beira:
Este é um projecto que envolve três Municípios. Como
é que vê a questão da competição e da
complementaridade entre os Municípios de Mirandela, Macedo de Cavaleiros
e Bragança?
Jorge Nunes:
Eu acho que cada vez mais as cidades e os municípios têm
de ter uma postura de cooperação a nível territorial
e institucional, tendo presente que essa cooperação exige
também uma postura de competição num sentido saudável.
A complementaridade entre os três municípios é positiva,
quer no âmbito deste projecto, quer em qualquer outro projecto.
A cooperação com o território vizinho de Espanha,
que tem competências importantes em algumas áreas do conhecimento
e do saber, são também indispensáveis e necessárias
para a afirmação, quer para Bragança, quer para o
eixo de Bragança, Mirandela e Macedo de Cavaleiros.
Eduardo Beira:
Quais são as linhas de desenvolvimento que antevê para Trás-os-Montes
nos próximos vinte anos?
Jorge Nunes:
Eu creio que os próximos anos passarão por quatro áreas
essenciais.
O turismo, tendo em conta a aptidão, as características
e a qualidade paisagística e patrimonial da região.
O sector tradicional que caracteriza a região como predominantemente
agrícola.
O ambiente, uma área onde irão emergir novas oportunidades
a nível empresarial, a nível de novas competências
que terão de ser trabalhadas e desenvolvidas.
E por último os recursos humanos qualificados de que a região
dispõe e cuja tendência será de crescimento.
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